18 de dez. de 2015

A CONTA, POR FAVOR

após distribuir à revelia os meus "press releases" do meu livro 'o tiro de um milhão de anos' (nascido em 24 de outubro de 2015), como um fazendeiro texano distribui tiros ao ouvir barulho estranho, eu ao menos consegui um evento. bem, na realidade eu deveria cumprir uma burocracia de um edital do proAC, que dizia que eu deveria, obrigatoriamente, realizar qualquer ação literária em qualquer biblioteca deste estado para ter o projeto do livro concluído (mesmo com o livro publicado em mãos). depois de encontrar certa dificuldade em encontrar uma biblioteca para fazer a tal ação literária, debati com uma funcionária do proAC. disse a ela que, fazer uma ação literária em uma biblioteca pública não era algo tão simples assim de se conseguir, disse que quando uma biblioteca convida um autor para um bate-papo, uma mesa ou algo do tipo, o faz respeitando suas programações e seu planejamento. disse também que normalmente o autor é "convidado" para esses eventos e não "se convida". além do mais, quando essas bibliotecas convidam autores para uma mesa, escolhem alguém da companhia da letras ou da record, não um desconhecido com eu. ao replicar para a funcionária que basicamente me respondeu "se vira", eu disse "o problema é conseguir uma ação literária dentro de uma biblioteca, o espaço dificulta que a ação seja realizada e não a ação em si, ou seja, se eu tirar a roupa e começar a recitar na rua, é uma ação literária". ela não me respondeu mais. pois bem, por sorte, eu acabei conseguindo o tal evento na biblioteca da fflch, na usp, onde estudo, bem debaixo dos meus bigodes, o primeiro lugar que eu deveria ter tentado. que burrice a minha, não? fica aqui um relato de uma experiência com editais: eles são ótimos, maravilhosos, mas cumprir com todos os itens deles dá trabalho... além do mais, mesmo com a ímpar gentileza da maria aparecida laet e do milton, da biblioteca florestan fernandes, por má sorte, a data disponibilizada foi um dia após a minha atroscopia nos dois joelhos! hehe. lá fui eu realizar o evento, de muletas, acompanhados por meus pais, que me levaram de carro.


a chamada (sim, eu posso falar sobre tudo isso aí)



minha mãe, eu, maria aparecida laet e meu pai após a mesa.


até assinei livros. este, para um fofa estudante de filosofia

bem, tudo acabou sendo uma experiência. foi uma mesa com um autor só. sem mediador, portanto... acabou sendo uma palestra! uau, tempos que eu não falava em público, ainda mais sozinho. e consegui abordar satisfatoriamente, acho, os temas propostos. dispensei apenas a clássica leitura de um trecho da minha obra no final. bem, ninguém ali me conhecia, então seria um pouco de convencimento da minha parte ler um trecho da minha obra. acontece que agora, que tenho tudo o que preciso para concluir meu projeto com o proAC e ficar sem dívidas com o estado, estou em plena recuperação da minha cirurgia, não posso ficar perambulando pelo bairro da luz sozinho, com minha cinta-liga ortopédica. :(


ainda bem que não li, aliás. imagine se erro no meio da leitura como faço neste vídeo...


***


o fim de ano. ah o fim de ano. não, não vou postar de novo o meu conto natalino "ovos". vou é posta-lo no doampalavras.com. aliás, o conto natalino da adrienne myrtes já está lá. não perca. o fim do ano é o gosto amargo de uma cerveja que acabou. quanto não tem outra. 

pensei em dizer, dizer a mama. que é tão chata com a minha sobrinha de quinze anos que não abre mão de usar shorts muito curtos e não lavar as louças que suja: o que você prefere? ter uma neta porca ou não ter neta nenhuma? sua neta É porca. o seu problema é não conseguir aceitar as pessoas como elas são. e se ela tentasse mudar você? e se outras pessoas tentassem mudar você? você não aceitaria, porque simplesmente se coloca em uma posição onde você está certa e todos ao seu redor estão errados. claro que as pessoas podem mudar. a sua neta pode se tornar uma pessoa mais "limpa", mas ELA é que tem que querer isso, não você. aliás, se eu fosse ela, eu não apareceria na sua casa nunca mais. e o minúsculo short, minha gente? [ bem, daí já é uma questão que me escapa. é um assunto de mulher. isso já é um assunto feminista e que eu, como homem, não devo me meter. assim como quem não é negro não deve se meter em discussões sobre racismo, assim como quem não é gay não pode discutir sobre homofobia. conceito errado? pessoalmente, acho que sim, mas não é o que vemos por aí. eu, como gay, acho interessante ouvir, como uma raposa, o que uma pessoa heterossexual acha sobre a homofobia. a título de informação. mas aqui no brazel, na fflch-usp por exemplo, onde deveria haver tanta gente evoluída, o pessoal quebra o pau legal. quando um homem tenta argumentar com uma feminista, a coisa já declina para ofensas pessoais e agressividade, basta observar os grupos nos facebook...] . o short minúsculo da minha sobrinha de quinze anos: bem, acho, mamãe, que você, sua filha e sua neta devem debater sobre. só vocês mulheres. ainda vivemos em um mundo machista? sim, principalmente são paulo, que é um lugar cheio de gente escrota, machista, mal educada, além de ser a cidade que mais tem gente com problemas mentais no mundo! (sim, já li uma pesquisa sobre isso). [ aliás, não só em são paulo, mas no brasil em geral. veja só o caso da coitada da fabíola. teve de pedir licença do trabalho, teve de mudar de cidade, só porque foi pega pelo marido no motel com outro homem. é errado uma mulher casada ir para o motel com outro homem? sim, é errado. assim como todos nós que somos seres humanos, erramos. não tenha dúvida que a população de gente escrota e ridícula que fica compartilhando o vídeo dela a chamando de puta, fazendo com a que a vida daquela mulher fosse arruinada, essas pessoas cometeram um erro muuuuuuito pior que o dela, não tenham dúvida  { o pior, é ir para o escritório trabalhar, em uma multinacional japonesa, e encontrar exatamente esse tipo de gente fazendo comentários escrotos sobre o caso fabíola, uma gentinha sem educação e sem cultura, dividindo o mesmo espaço que eu, que sou formado em boa faculdade, curso a segunda, falo outras línguas e sou razoavelmente culto. ou a mão de obra qualificada está em péssimo nível nesse país ou as contratações na empresa onde trabalho estão sendo muito mal feitas... }. nem vou entrar no mérito de questionar se a situação fosse o contrário, se a fabíola é quem tivesse pego o marido com outra mulher no motel. será que haveria tanto alarde? será que haveria zilhões de compartilhamentos chamando o cara de "puto"? será que ele teria de pedir licença do trabalho por isso? ir embora da cidade? tá vendo que lugar escroto a gente vive? } bem, não tenho dados estatísticos, mas não sei quantos dos homens acham que uma mulher andando por aí com um short muito curto está se "oferecendo" ao invés de apenas estar usando uma roupa que gosta e que acha confortável. não sei quantos. também não sei quantas da mulheres que saem de casa com roupas muito curtas são estupradas (bem, espero que seja um número BEM pequeno, senão pare o mundo que eu quero descer). há também o conceito de que, uma pessoa de quinze anos ainda é um tanto verde, não consegue enxergar o quanto há de maldade, de perversidade no mundo. aliás, a sociedade enxerga uma mulher adolescente de 15 anos como um ser frágil e vulnerável, isso é sim verdade... pois bem, temos então dois caminhos a considerar: a minha sobrinha deve usar roupas menos curtas para "se proteger" ou andar sim com seus shorts minúsculos como uma ação de "auto-afirmação"? bem, vocês que são mulheres que decidam...

pensei em dizer. dizer a mama: não, não vou passar o natal com vocês na casa da minha irmã. nós apenas estamos nos dando "um pouco melhor", mas não o bastante para eu ir passar o natal na casa dela. você, mamãe, é uma pessoa que não tem valores. primeiro, porque você é budista, então você deveria estar cagando para ceias de natal. e se você ainda o comemora, como faz todos os anos, você deveria saber que o natal se passa na casa da mãe. os filhos é que vão passar a ceia na casa da mãe. principalmente se os dois filhos tem desavenças. você não pode simplesmente aceitar o convite de um deles o deixar o outro filho sozinho. é mais fácil aceitar o convite da sua filha, não? claro, isso te poupará o trabalho de organizar a ceia, de limpar a sujeira. e se eu não quiser ir junto para a casa da minha irmã, é muito simples me acusar de chato e anti-social, não é mesmo? no ano passado já tive de tolerar o episódio do ano novo. sei que não combinamos nada de passar o ano novo juntos, mas aconteceu de eu não ser chamado para nada e pretendia ir passar o ano novo na sua casa. no dia trinta, meu pai me ligou dizendo: vá para a av. paulista passar o reveillon, vamos sair. seja lá para onde eles foram, não puderam cogitar me levar junto? talvez foram para a casa de pessoas machistas que iriam perguntar se eu tinha namorada, não? vergonha de mim a essa altura do campeonato? bem, eu não fiquei com vergonha do meu pai quando ele ficou falando alto no evento na biblioteca. e eu não passei o reveillon em festa com amigos da usp coisa nenhuma, passei sozinho. e quer saber? não achei ruim. eu sou mesmo uma pessoa sozinha. fui criado para ser. quer saber? eu sei ler o bastante para saber assar um peru sozinho na minha casa. vou comprar cervejas importadas e ficar fazendo companhia para a minha gata. e bom natal.

mas quer saber? não vou dizer nada disso para a minha mãe. vou dizer só no blog, que ninguém lê mesmo. sabe por quê? porque existem milhares de famílias da síria, do afeganistão, do iraque, do irã, até da áfrica, passando maus bocados para tentar atravessar a fronteira da macedônia. a prioridade para os que são "aceitos", são as famílias da síria, do afeganistão e do iraque, que são de fato, neste momento, considerados refugiados de guerra. ainda assim, esses enfrentam muita dificuldade para ultrapassar a fronteira. quando passam, se acotovelam para tentar entrar nos ônibus os quais eles nem sabem para onde vão. os iranianos tem mais dificuldades para passar. eles não são considerados refugiados de guerra, são considerados apenas imigrantes que querem uma vida melhor. assim como alguns africanos. vi uma entrevista de uma mulher africana com três crianças que não conseguia passar a fronteira de jeito nenhum. ela dizia "o problema é com a cor? eu não sou ser humano também? estou com crianças doentes, minha crianças estão doentes". ou seja, os problemas que tenho com minha família são leves. e bom natal.

***

falta as listas? bem, é difícil fazer listas. pelo menos para mim. não sou crítico de nada, não conheço técnica de nada, vou fazer lista de quê? no futuro, talvez eu faça listas de literatura já que curso letras na melhor universidade deste continente. aliás, posso fazer mestrado em literatura comparada e criticar a SUA obra no futuro hehe. e faze-lo com pleno conhecimento.

ando cansado para fazer listas, mas posso falar sobre algo que amplamente conheço: eu mesmo.

as cinco melhores coisas que me ocorreram este ano?

1.publiquei meu terceiro livro
2.fiz atroscopia nos dois joelhos, o que me possibilitará praticar esportes por muitos anos sem dor.
3.sim, mantive meu emprego na multinacional (é importante trabalhar para ter um lugar onde "cair vivo")
4.mantenho os pés no chão. só vou fazer a minha obra prima na literatura lá pelos quarenta. até lá ninguém vai me dar atenção. assim, não sofro com expectativas.
5.terminei mais um ano vivo, meu bem. para um chato depressivo que já tentou se matar duas vezes, é um grande feito. estou aqui vivo para ver gente morrendo hehe.

‪#‎em2016euquero‬:
• Dar a volta
• Assoviar e chupar cana
• Correr como um ladrão
• Saltar as veias
• Fazer do coração: tripas
• Casa, carro e esposa (só que não)
• Casa e carro
• E ser amado.

XOXO



1 de dez. de 2015

O HABITAT

o habitat

   não há leitores no ambiente em que vivo. neste país, nessa cidade. isso invalida, inutiliza até, a minha tentativa de atingir o público. é um público minúsculo. o de literatura. acho. as grandes editoras é que são profissionais em garimpar esse público. e toma-lo. para mim, que não sei como, é um trabalho quase impossível.

   deste ambiente, das pessoas que consomem a literatura, muitas delas não a entendem, imagino. como “formar” leitores em um país onde a educação é tão ruim? onde a capacidade intelectual da maioria da população é tão baixa devido a isso?

   a literatura neste espaço então limita-se a uma troca de favores? onde escritores consomem a literatura uns dos outros? há também uma importante forma de divulgação que é conhecer pessoas. conhecendo pessoas, você pode sim aumentar o número de pessoas que pode ter acesso a sua literatura, e não entende-la. há sim, nos eventos literários, mesas por aí. pouco ou nunca sou convidado para nada. talvez porque não frequento os bares da vila madalena. nada contra. apenas falta ânimo. desses eventos, por mau, enxergo dois tipos de público: um que não entende nada ou pouco do que está acontecendo, do que está sendo dito, e o outro, que é formado por geniozinhos que se acham mais espertos do que os escritores que estão em cima do palco, e que demonstram em suas perguntinhas geniosas que aqueles pobres escritores que estão ali, não são bons o bastante para eles. lembro da minha mesa no festival mix brasil em 2013, prestes ao lançamento do meu livro “o estranho mundo”. marcelino freire estava mediando a mesa com escritores desconhecidos, eu inclusive, daí em certo ponto uma gay desagradável na platéia fez uma pergunta para o marcelino, como se os convidados que estavam ali não eram interessantes o bastante, tinham de fazer o marcelino falar para a mesa ter alguma graça. depois da mesa, indo para o bar, ainda tive de aturar a luciana penna comentar “marcelino, se não tivesse você nessa mesa, não iria ninguém! (de público)”. talvez seja melhor não ser convidado a nada.

   sendo assim, aceito que é difícil querer leitores. é melhor querer crítica. almejo conseguir uma indicação a algum prêmio literário. ficarei feliz. mesmo se eu não tiver nenhum leitor. quer saber? eu só comecei a acreditar que de fato sou bom depois que o proAC me disse que sou bom. antes, quando só leitores o diziam, eu não acreditava. agora sim, as editoras independentes estão começando a ser indicadas a prêmios literários, e a vence-los. apenas gostaria de expressar a opinião de que o fato de que isso esteja ocorrendo nada tem a ver com o "empenho" de pessoas como vanderley mendonça e eduardo lacerda. nada. os livros da edith e da patuá só começaram a ganhar prêmios literários por causa da excelência dos autores, não pelo "esforço" dos proprietários dos selos. afinal, o marketing desses citados homens, é levantar uma bandeira contra as livrarias alegando que o preço de capa é caro demais. eles simplesmente não colocam os livros de seus selos nas livrarias e os vendem em espaços e/ou eventos onde não se usa cartão de crédito e débito para que possam ter o máximo de lucro em cima dos livros. é só isso que eles querem: ter o máximo de lucro em cima dos livros (claro que eles sabem que a maioria do público dos autores que estão em seus catálogos frequentam esses eventos literários onde eles levam os livros para vender). o custo disso, é que os autores tem extrema dificuldade em fazer seus livros chegarem a mais pessoas, autores esses que ganham prêmios literários para um cara como eduardo lacerda ficar posando de herói do rolê por aí. o meu segundo livro, que saiu pela edith, não pode ser adquirido em lugar nenhum. o vanderley sequer colocou no site da edith para vender. o único lugar onde o livro podia ser encontrado, a livraria hussardos (que era dele), fechou em maio deste ano.

   marcelo noceli, editor do meu terceiro livro, sim, ele faz questão de distribuir bem os livros da reformatório e da pasavento. meu livro novo pode ser encontrado em qualquer livraria grande do país. não me importa se ele não vender uma mísera cópia, eu quero que meu livro esteja disponível na livraria cultura. todo autor quer. há poucos dias, fiquei sabendo que um livro da reformatório foi indicado ao APCA deste ano. estou feliz pela reformatório. eles merecem.

o habitat 2

   ainda sou um escritor jovem. aos 30 ainda se é um escritor “jovem”. serei até os 40. agora, tudo o que tenho de fazer é escrever. mesmo que embora no habitat lá fora, escrever não seja o bastante (além de escrever você tem de ser a sua assessoria de imprensa, fazer contatos, manter contatos, fazer amigos), < ah! por falar nisso, vejam o "press release" que eu fiz do meu livro novo (dias atrás eu nem sabia o que era um press release), não posso pedir aos outros divulgarem se não divulgo nem no meu próprio blog, nao? >


   é o que se deve fazer na essência, escrever. para isso, aproveitei que não estou fazendo musculação para limpar o quarto. tempos, tempos que essa mesa não estava tão limpa:




   mudei a air fryer de lugar, ela ficava em cima de uma pequena mesa que agora defini como minha mesa de escrever e ler:



   também tive a ideia de tirar da prateleira todos os livros que comecei a ler e não terminei. de mafalda a platão: uma soma de 22 livros... dá pra tomar o ano de 2016 inteiro lendo. fiz isso para pensar duas vezes antes de entrar em uma livraria e comprar alguma coisa. preciso ler os livros que compro! bem, admito que terei de começar pelo último que comprei, no último final de semana, que não é um livro de literatura aliás: o livro dos diários da presidência do fernando henrique cardoso. pode ser tendencioso ou até mentiroso o que ele diz lá? pode. como também pode não; mas o importante nisso tudo, é conhecer um pouco da história recente do brasil, e de política. não, não sou tucano, nem coxinha. nem petista também. apenas acho que o fernando é melhor do que o lula. porém, acho que a dilma é melhor que o aécio. acho que primeiro se deve votar nas pessoas, depois nos partidos.  

o habitat 3

   eu meço 1,73m de altura. eu peso por volta de 70 kg. tenho um corpo musculoso, de alguém que treina atletismo há dois anos. sou branco. caucasiano. o cabelo e os olhos são castanhos. claros. por pai, sou português. por mãe, metade isso. algo de holandês e algo de africano por parte dela também. o nariz é grande. torto e feio. a testa é grande. mas os olhos são bonitos. a boca também. e o maxilar também. tenho sete tatuagens. esse corpo é onde eu habito. quando vou a alguma putaria, não pego o cara mais bonito, mas pego o terceiro ou o quarto cara mais bonito. não posso reclamar.

   eu tenho um emprego. fica a meia hora de metrô da minha casa. por causa dele eu posso pagar o aluguel. posso comer todos os dias e posso ir ao cinema aos finais de semana. tenho saúde boa o suficiente para praticar esportes. e o faço. estudo na melhor universidade do país. e escrevo. posso fazer o que gosto, que é escrever. e publicar. já publiquei três livros. não importa se não sou famoso e que tenho poucos leitores, eu posso escrever e eu posso publicar. eu acho que não tenho uma vida ruim. tive essa sensação ontem, voltando para casa após assistir ao filme “ausência” do chico teixeira. será que é essa sensação que o chico quis que o público tivesse? não lembro de ter alguma vez saído da sala de cinema com essa sensação. ainda mais de uma sessão de cinema brasileiro, e cinema paulista aliás, que costuma ser amargo. deve ser porque limpei a mesa. lavei a pia do banheiro. arrumei a cama, finalmente coloquei nela o lençol que eu tinha lavado há dias. joguei bastante lixo fora. deve ser por isso. comecei a arrumar a bagunça, a sujeira que estava meu quarto. um lugar limpo ajuda o ânimo, diminui a tristeza.


XOXO

10 de nov. de 2015

A VOLTA AO MUNDO Nº39

39ª mostra internacional de cinema de são paulo. ah, a mostra. um velho amor. é quando compenso um ano inteiro de filmes ruins, de poucos filmes bons. vejo mais filmes nesses quinze dias de mostra do que no resto do ano (em um ano comum). acho que não só eu. antes de ontem, domingo, eu esperava ver o islandês “pardais” ás 21h45, mas disseram que os ingressos esgotaram ás 15h00. é bom que tanta gente queira ver um filme  islandês no domingo ás 21h45. é ruim que eu não tive sorte de conseguir. mas o saldo é bom, é bom saber que vivo em uma cidade onde há sessões esgotadas para filme de arte. dei com a cara na porta também para as sessões de “pervert park” e “a bruxa”. este último, parece que a intensa procura não se justificou, pois não ganhou prêmio nenhum. eu não consegui ver os vinte filmes que costumo ver. estou com dó de gastar dinheiro por causa da crise, por causa dessa histeria coletiva. além disso, ando bastante baixo astral depois que parei de treinar atletismo em outubro, a temporada acabou e decidi tirar umas férias, volto a treinar só em março do ano que vem. tenho tido dores também. por isso, é melhor ficar na cama com a minha gata do que pegar o metrô e ir até o cinema. vi apenas treze filmes. como ando cansado, preferi fazer um top five ao invés de um top ten. ando tão cansado que dois dos resumos estão na postagem anterior.

  


01-THE PARADISE SUITE (HOL, 122’, 2015, Dir: Joost Van Ginkel)*****    

sinopse:
as histórias de seis pessoas que se cruzam e influenciam as vidas umas das outras de forma irreversível: jenya, uma jovem búlgara; yaya, um homem africano; ivica, um criminoso de guerra sérvio; seka, uma mulher bósnia; lukas, um pianista sueco; e o pai dele, stig.

o que dizer do único filme da mostra que me fez chorar? bem, talvez começando dizendo que não é o fato de que a frase “não venha para o nosso país, strangers keep out” seja a mensagem e o recado de muitos dos filmes deste ano. o que me fez chorar foram os conflitos humanos. para dois dos personagens, estrangeiros, a jovem búlgara e o homem africano, a holanda foi muito, mas muito cruel. eu aprecio, aprecio esse tipo de mensagem. o sonho europeu, o sonho americano. detesto o pesadelo que é o país em que vivo, a cidade em que vivo, mas é de onde eu sou, é o que eu sou, é aqui que devo ficar, sempre tive, tenho essa convicção. e a guerra civil? nós aqui não temos a noção do que é isso, por bem. o quão cruel é a guerra civil. e a educação, gente? e a educação? ainda há espaço para o garoto pianista que sofre bullying na escola e o pai rígido e frio, muito europeu. e o futuro da humanidade? o que dizer de Ivica que é um exemplo do homem mais perverso possível, dando banho em uma criança, mimando uma criança, seu filho, gente como Ivica se reproduzindo. o final, com o pai rígido pedindo desculpas ao filho e a garota búlgara reencontrando a mãe, me fez chorar copiosamente. sim, ao comparar com filmes com estrutura de roteiro parecida, eu gostei mais desse do que gostei de “três quintais” ou “magnólia”. a minha melhor experiência dessa mostra, sem dúvida.



02-DOENTE (bolesno, CRO, 2015, Dir: Hrvoje Mabic)*****

bolesno é um documentário que conta a terrível história de ana dragicevic, uma garota croata que ficou presa em uma clínica para dependentes químicos sob falsa alegação de ela ser viciada, quando na verdade estavam a tratando por sua homossexualidade. ela foi presa lá aos 16 e ficou por cinco anos. ana processou a médica responsável por sua internação e também seus pais que a internaram. de acordo com o documentário, o caso ficou razoavelmente famoso na croácia. é difícil encontrar na internet algo sobre ana que não esteja em língua local, então não pude checar exatamente quando se deu a internação, mas posso supor que aconteceu no começo dos anos 2000. Sim, no começo dos anos 2000 eles ainda faziam isso com homossexuais, quase o fizeram comigo e. meus pais 'descobriram' a minha homossexualidade no ano de 1999 ou 2000, não me lembro exatamente. eu tinha 15 ou 16. eu senti aquela 'lepra' que o escritor chileno pedro lemebel diz sobre a homossexualidade em um de seus mais memoráveis poemas. sim, pois meus pais me trataram como se eu não estivesse apenas doente da cabeça, mas da pele também. éramos uma família bem porquinha, mas quando minha mãe descobriu minha homossexualidade, ela me deu uma toalha só para mim e um sabonete só para mim. todos na minha casa usavam o mesmo sabonete, que ficava lá na saboneteira até acabar. lá nunca se controlava quem usava as toalhas também, minha mãe costumava colocar duas toalhas grandes no box e nossa família ia usando até que minha mãe julgasse que elas estivessem sujas e as colocava para lavar. mas quando minha mãe soube, ela foi bem clara em dizer que não era para eu usar aquelas toalhas, as do resto da família. ela me deu uma só para mim. não muito tempo depois, meus pais me levaram ao psicólogo alegando que eu estava 'muito nervoso'. na verdade, o que eles queriam é o que psicólogo 'curasse' minha homossexualidade. claro que não funcionou e naquela mesma ápoca, eu comecei a sentir sintomas de depressão que permanecem comigo até hoje, aos 31. o caso de ana dragicevic é muito mais desumano que o meu, é claro. quando o pai dela a visitava na clínica, ele se esquivava quando ela tentava tocar suas mãos. quando ana finalmente conseguiu a liberdade, o diretor acompanhou ana até a casa de sua mãe. ela abre a porta, vê ana e bate a porta. depois de anos de terapia e grave depressão, uma muito mais grave do que a que tenho, ana fica sabendo que sua mãe teve um ataque cardíaco. ana foi visitar sua mãe no hospital e ela chorou muito quando viu a filha. ana também escreveu uma carta para o pai, dizendo que não deseja nada de ruim para ele e que ela se lembra com carinho do tempo em que passou com ele até ter 16 anos de idade, uma época em que ela teve a sensação de ter sido amada. eu também tive esse 'buraco negro' na minha vida. minha mãe tornou-se budista há uns 5 anos atrás e se tornou uma pessoa mais fácil, meu pai também. agora eles me tratam bem, mas quando eu era adolescente, quando mais precisei deles, eles me viraram as costas, eu passei vários anos tendo a sensação de que ninguém no mundo me amava. parece que os pais começam a se arrepender do que fazem com os filhos gays adolescentes quando eles já tem mais de trinta anos. mas o passado nunca está morto, não é sequer passado.



03-GAROTA NEGRA (La Noire De... SEN, 65’, 1966 Dir: Ousmane Sembene) *****

Sinopse:
diouana é uma jovem senegalesa que é levada a antibes, na frança, por um casal francês. ela pensa que será governanta das crianças, mas é forçada pelos patrões a trabalhar como empregada, sem receber salário. diouna logo percebe a discrepância entre a realidade de sua vida na frança e seus antigos sonhos sobre o país europeu.

bem, muito antes de anna muylaert, lá em 1966, no longínquo senegal, já se tocava neste assunto com um olhar, com uma crítica, com um questionamento exemplar. o fato de ser uma garota africana indo trabalhar na frança toca mais explicitamente na ferida da escravidão, que em 1966 certamente era um assunto bem mais fresco. é o mesmo que acontece com as mulheres nordestinas hoje, na verdade. elas saem do nordeste e vem a são paulo cheias de sonhos, para então acabar escravizadas. a diferença é que as últimas citadas e a protagonista deste filme, vão trabalhar na casa das patroas por gosto. pois bem, a discrepância do que é acertado com o que é  praticado pela patroa neste filme é um conflito tão atual que é discutido hoje em dia no nosso país no que diz respeito a regulamentação da profissão das domésticas. além disso, vemos aqui um choque da expectativa do serviço e da relação patroa-empregada: diouana varrendo a sala de estar com um dos vestidos dados pela patroa e de salto alto. logo a patroa se irrita ao vê-la limpando a casa vestida assim “você não vai para uma festa, não deve se vestir assim”. podemos perceber que diouana, no alto de sua inocência, não se sente inferior a patroa, e entende que mantém apenas uma relação de troca justa, onde ela presta o serviço e recebe o salário por ele. dessa forma, por quê não podia usar os vestidos doados pela patroa e sapatos de salto enquanto trabalha? não, não podia. tanto naquela época quanto hoje em dia, as patroas fazem questão de deixar claro que há sim uma superioridade em relação as empregadas. tanto que as empregadas de luxo de hoje em dia ainda usam uniformes, brancos ou não. ainda se vê em novelas da rede globo, ainda se vê na vida real. além da discrepância das obrigações das empregadas em relação ao que foi combinado, além da necessidade de uma regulamentação que apenas hoje começa a se dar, há o fato de que muitas das empregadas moram no trabalho, na maioria das vezes estão em uma cidade onde não conhecem ninguém e daí a sensação de escravidão, onde o pouco ou nenhum tempo livre dificilmente é revertido em lazer. neste filme, diouana diz a si mesma “o que é a frança? é um buraco negro?” pois é o que ela vê da frança da janela de seu quarto quando o dia de trabalho termina. diz a si mesma porque depois que ela chega a frança, ela diz pouquíssimas palavras. isso porque os patrões não falam com ela senão para lhe dar ordens ou para reclamar de seu serviço. no final, nem a patroa nem a empregada estão satisfeitas uma com a outra, e a crescente tortura psicológica imposta pela patroa culmina em um final de cortar a garganta, literalmente. eu pessoalmente, jamais teria uma empregada em casa, por mais rico que eu fosse ou me tornasse.



 04-PIXADORES (Tuulensieppaajat, 2014, FIN, Dir: Amir Escandari)*****

este nem estava na minha programação. pagar para ver um bando de moleques finlandeses pixando por aí? jamais. a palavra 'pixar' ainda nem é reconhecida como palavra. porém, quando na hora em que me deu muita vontade de ver um filme em determinada hora e abri a sinopse deste filme, percebi que é um filme finlandês, mas sobre pixadores paulistanos. e que também é parte colorido e parte preto e branco. bem, fiquei curioso para ver como seria o olhar de um diretor finlandês para esses moleques brasileiros pixadores alienados. pouco antes da sessão, no espaço itáu da augusta, tinha gente de comunidade entrando com bebida alcoólica na sessão (fica um alerta para o pessoal da mostra e do espaço itaú).  olha, detesto esse povo de comunidade, acho desnecessária essa postura agressiva deles. o motivo desse tipo de atitude estava claro logo nos primeiros depoimentos: “nós gostamos do ódio que despertamos na sociedade”. o filme é um documentário sobre quatro pixadores paulistanos, todos moradores de comunidade, e que foram para berlin mostrar seu “trabalho” por conta de um edital da vida. eu adoraria saber quem foi o babaca que mandou esses quatro bandidos para berlin com o dinheiro dos nossos impostos.  sim, bandidos, visto que pixação ainda é o mesmo que “vandalismo” em nosso código penal, portanto é crime. se é crime, quem pratica é bandido, certo? certo. então vamos lá: o filme acompanha as aventuras desses marginais escalando prédios e sujando-os. três deles, sequer sabem escrever o  próprio nome. um deles, que é uma espécie de líder do grupo sim, é alfabetizado e um 'pseudo-culto', na hora em que o filmam na cama lendo nietsche, me ecoa uma frase ‘quando um babaca decide que quer ser culto e espertinho, a primeira coisa que vai ler é nietsche’. quando um dos moleques, que já tem um filho, é questionado sobre o que quer da vida, ele responde: “ meu sonho é ter uma casa”. dá vontade de gritar em direção a tela a seguinte frase ‘e você gostaria que chegasse alguém e pixasse a SUA casa?’. esse é o conflito principal da primeira parte do filme: um cara ‘pseudo-culto’ que acha que sujar a parede dos outros é “arte”, se junta a três analfabetos e os fazem pensar que também estão fazendo 'arte', que estão fazendo 'um trabalho', que estão 'transgredindo'. eles nem sabem o que estão fazendo, não sabem nem escrever o próprio nome.  a verdade é que esses moleques sem educação só o fazem, porque gostam e porque acham legal serem odiados pela sociedade, a velha “vitimização”. eles acham que eu e você, que moramos em regiões centrais em apartamentos (com muito esforço, inclusive; eu mesmo vou acertar o que devo de aluguel só no dia 15), somos culpados por eles morarem na comunidade. cara, eu não tenho culpa, não tenho mesmo, pago uma caralhada de impostos. agora, se os políticos pegam o dinheiro e enfiam no cu, não é minha culpa, não mesmo. legal, chega a notícia que os pixadores foram contemplados no edital e vão para berlin. o 'pseudo-culto' diz: 'Vamos lá mostrar para eles nossa arte política!'. daí o analfabeto responde “se é louco...” claramente, ele não faz a menor ideia do que é 'arte política'. bem, lá vão os pixadores para berlin com o dinheiro dos nossos impostos. daí, acontece o ápice do filme: quando os curadores da tal bienal de berlin os convidam para um evento onde supostamente devem mostrar a sua 'arte'. quando chegam no local, se deparam com paredes brancas de madeira destinadas ao 'trabalho' das pessoas. no local, os curadores falavam sobre o que era pintar paredes utilizando tinta spray para fazer desenhos, pinturas, ou qualquera. não, eles não saem por aí escalando prédios públicos e sujando-os. pois então o 'pseudo-culto'  diz que 'não é esse o nosso trabalho', e 'não viemos aqui para pixar essas madeiras brancas'. o que fizeram os quatro contemplados então? saltaram as madeiras, pixaram o prédio público e tombado que tinha atrás delas, jogaram tinta no curador do evento e a palhaçada terminou com a polícia, claro. falando de cinema, achei a atitude do diretor extremamente corajosa em fazer o trabalho. E u não acho nem que ele aprove o que esses marginais fazem, mas ele quis mostrar, quis dizer que aquilo existe, em um lugar onde ainda existem pessoas que não tem educação suficiente sequer para escrever o próprio nome e acham que são artistas, onde gente que tem uma educação básica e ruim pega um livro do nietsche e sai por aqui achando que é um gênio, achando que está arrasando no rolê.  eu dei cinco estrelas. pela coragem do diretor, pelo conflito, o documentário é muito bem feito, muito bem filmado, a fotografia em preto e branco está linda (só a parte filmada em são paulo está preto e branco, também concordo que são paulo só deve ser filmada em preto e branco). quando acabou o filme, bati palmas e saí apressado. a sala do espaço itaú da augusta estava lotada, tinha até gente em pé. o que será que aconteceu depois? será que os caras pixaram a sala?



05-NÓS SOMOS JOVENS, NÓS SOMOS FORTES (wir sind jung. wir sind stark, GER, 2014, 116’ Dir: Burhan Qurbani) ****

sinopse:
em agosto de 1992, três anos após a queda do muro de berlim, protestos anti-imigrantes aconteceram na cidade de rostock, no leste alemão. o alvo dos ataques era um abrigo para refugiados na periferia da cidade, que foi incendiado. o filme reconta esse acontecimento acompanhando um dia na vida de três personagens: lien, uma vietnamita que vive na alemanha; stefan, jovem entediado e raivoso que participa do tumulto; e martin, político ambicioso e pai de stefan.


já vi muito e sobre xenofobia no cinema, mas não consigo me lembrar de ter visto algo tão cruel, tão amargo, tão real. mais uma valiosa propaganda anti imigração. stefan e o pai (a juventude raivosa, alienada e o político que não sabe bem lidar com as divergências entre suas convicções políticas e o que o filho está “se tornando”), acho que não são os personagens principais do filme junto com a garota vietnamita, ela é o personagem principal, a vida dela e o contexto social e político no qual ela está envolvida é que é o grande conflito do filme. o evento histórico em si é uma demonstração cruel de xenofobia como muitas outras na europa, claro que chama muito a nossa atenção, pois é inimaginável algo assim no brasil (tente imaginar uma galera indo até o bairro do bom retiro para incendiar um prédio habitado por bolivianos como se fosse um evento, com cerveja e comida, como um protesto legítimo). aqui não há esse tipo de partido, as pessoas odeiam umas as outras quietinhas, e não acho isso ruim. voltando a garota vietnamita, ela quer continuar na alemanha, ela quer o visto permanente de trabalho, mesmo sendo claramente odiada e hostilizada. talvez seja o otimismo extremo, próprio desses asiáticos, mesmo saindo a rua com crianças a chamando de “china” (uma forma pejorativa de se referir a asiáticos na alemanha), ela sempre continua sorrindo, porque ela tem certeza de que tem o direito de estar onde está, tem a certeza de que é uma cidadã do mundo, de que é um ser humano, acima de tudo. e o filme termina assim, com essas duas diferenças de atitude: a pedra na mão da criança alemã e o sorriso da garota vietnamita.

é bem provável que eu passe a postar com pouquíssima frequência, pois retomei o projeto do meu quarto livro e tenho pretensões de terminá-lo.

XOXO.

4 de nov. de 2015

RELATO DE FÉRIAS 2

Prólogo

“Dizem que a vida passa pelos seus olhos quando você morre. A vida passa pelos meus olhos o tempo todo”.
   




“The past is never dead. It’s not even past” Willian Faulkner

“ A Croácia é uma sala branca? A França é um buraco negro?”


Parte 1

quando pedi ao meu gerente vinte dias de férias, para pagar algumas dívidas e para me preparar melhor para o lançamento do meu livro, ele diz 'tire treze dias, volte e depois tire os outros sete' ele pensa 'é claro que ele vai aceitar, ele nunca viaja'. ele está certo. eu nunca viajo. eu não economizo dinheiro durante o ano para. eu não tenho namorado ou um amigo tão próximo que tire as férias ao mesmo tempo que eu para viajar comigo. além disso, sempre disse a mim mesmo: "só vou viajar ao exterior quando eu tiver algo a fazer por lá". eu só vejo essa possibilidade daqui a quatro anos quando eu participar do campeonato mundial master de atletismo, quando eu tiver 35. sim, tenho esse sonho, quero ser campeão mundial master no salto em distância aos 35. para isso, preciso saltar por volta de 6,80m (um metro a mais do que salto hoje). é possível? sim, é terrivelmente possível. E esse não é meu único sonho. quer saber de uma coisa? quer que eu te conte um segredo? eu sonho o tempo todo. eu nunca parei de sonhar e é por isso que estou aqui, escrevendo nesse blog, andando por aí, deixando a cama todas as manhãs.



esse sou eu na minha festa de aniversário. chamo assim porque eu nunca faço um evento no meu aniversário. nunca levo amigos a um bar, por nunca ter dinheiro disponível ao décimo primeiro dia de abril, por não ter energia para isso ou por não ter amigos o bastante para encher uma mesa de bar. então, eu comemoro quando eu publico livros, de dois em dois anos, mais ou menos. funciona em parte, porque meu lançamento juntou pessoas suficientes para encher uma mesa de bar para um evento de aniversário, porque as pessoas ainda acham que publicar um livro é uma coisa importante, um orgulho mas. claro que foi um número bem pequeno de pessoas para um lançamento de livro. o sorriso amarelo do editor mais uma vez, faz eu me sentir o maior idiota do mundo. tentei divulgar o evento, tentei mesmo mas. eu definitivamente não sou popular. agora começo a achar que lançamento de livro não é uma boa ideia. vou pensar em algo diferente para o próximo livro. sim, haverá próximo livro, o quarto, que é tão bom quanto este que estou publicando agora. o quarto sairá não porque sou popluar, mas porque eu sei escrever, e isso é o mais importante.


Parte 2


39ª mostra internacional de cinema de são paulo. primeira parada: croácia.

“doente” (bolesno, CRO, 2015, Dir: Hrvoje Mabic) ⋆⋆⋆⋆⋆

bolesno é um documentário que conta a terrível história de ana dragicevic, uma garota croata que ficou presa em uma clínica para dependentes químicos sob falsa alegação de ela ser viciada, quando na verdade estavam a tratando por sua homossexualidade. ela foi presa lá aos 16 e ficou por cinco anos. ana processou a médica responsável por sua internação e também seus pais que a internaram. de acordo com o documentário, o caso ficou razoavelmente famoso na croácia. é difícil encontrar na internet algo sobre ana que não esteja em língua local, então não pude checar exatamente quando se deu a internação, mas posso supor que aconteceu no começo dos anos 2000. Sim, no começo dos anos 2000 eles ainda faziam isso com homossexuais, quase o fizeram comigo e. meus pais 'descobriram' a minha homossexualidade no ano de 1999 ou 2000, não me lembro exatamente. eu tinha 15 ou 16. eu senti aquela 'lepra' que o escritor chileno pedro lemebel diz sobre a homossexualidade em um de seus mais memoráveis poemas. aliás, tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em 2013:


eu, marcelino freire e pedro lemebel.

sim, pois meus pais me trataram como se eu não estivesse apenas doente da cabeça, mas da pele também. éramos uma família bem porquinha, mas quando minha mãe descobriu minha homossexualidade, ela me deu uma toalha só para mim e um sabonete só para mim. todos na minha casa usavam o mesmo sabonete, que ficava lá na saboneteira até acabar. lá nunca se controlava quem usava as toalhas também, minha mãe costumava colocar duas toalhas grandes no box e nossa família ia usando até que minha mãe julgasse que elas estivessem sujas e as colocava para lavar. mas quando minha mãe soube, ela foi bem clara em dizer que não era para eu usar aquelas toalhas, as do resto da família. ela me deu uma só para mim. não muito tempo depois, meus pais me levaram ao psicólogo alegando que eu estava 'muito nervoso'. na verdade, o que eles queriam é o que psicólogo 'curasse' minha homossexualidade. claro que não funcionou e naquela mesma ápoca, eu comecei a sentir sintomas de depressão que permanecem comigo até hoje, aos 31. o caso de ana dragicevic é muito mais desumano que o meu, é claro. quando o pai dela a visitava na clínica, ele se esquivava quando ela tentava tocar suas mãos. quando ana finalmente conseguiu a liberdade, o diretor acompanhou ana até a casa de sua mãe. ela abre a porta, vê ana e bate a porta. depois de anos de terapia e grave depressão, uma muito mais grave do que a que tenho, ana fica sabendo que sua mãe teve um ataque cardíaco. ana foi visitar sua mãe no hospital e ela chorou muito quando viu a filha. ana também escreveu uma carta para o pai, dizendo que não deseja nada de mal para ele e que ela se lembra com carinho do tempo em que passou com ele até ter 16 anos de idade, uma época em que ela teve a sensação de ter sido amada. eu também tive esse 'buraco negro' na minha vida. minha mãe tornou-se budista há uns 5 anos atrás e se tornou uma pessoa mais fácil, meu pai também. agora eles me tratam bem, mas quando eu era adolescente, quando mais precisei deles, eles me viraram as costas, eu passei vários anos tendo a sensação de que ninguém no mundo me amava. parece que os pais começam a se arrepender do que fazem com os filhos gays adolescentes quando eles já tem mais de trinta anos. mas o passado nunca está morto, não é sequer passado.


Parte 3

39ª mostra internacional de cinema de são paulo. segunda parada: esculhambação.


“Pixadores” (Tuulensieppaajat, 2014, FIN, Dir: Amir Escandari) ⋆⋆⋆⋆⋆

este nem estava na minha programação. pagar para ver um bando de moleques finlandeses pixando por aí? jamais. a palavra 'pixar' ainda nem é reconhecida como palavra. porém, quando na hora em que me deu muita vontade de ver um filme em determinada hora e abri a sinopse deste filme, percebi que é um filme finlandês, mas sobre pixadores paulistanos. e que também é parte colorido e parte preto e branco. bem, fiquei curioso para ver como seria o olhar de um diretor finlandês para esses moleques brasileiros pixadores alienados. pouco antes da sessão, no espaço itáu da augusta, tinha gente de comunidade entrando com bebida alcoólica na sessão (fica um alerta para o pessoal da mostra e do espaço itaú).  olha, detesto esse povo de comunidade, acho desnecessária essa postura agressiva deles. o motivo desse tipo de atitude estava claro logo nos primeiros depoimentos: “nós gostamos do ódio que despertamos na sociedade”. o filme é um documentário sobre quatro pixadores paulistanos, todos moradores de comunidade, e que foram para berlin mostrar seu “trabalho” por conta de um edital da vida. eu adoraria saber quem foi o babaca que mandou esses quatro bandidos para berlin com o dinheiro dos nossos impostos.  sim, bandidos, visto que pixação ainda é o mesmo que “vandalismo” em nosso código penal, portanto é crime. se é crime, quem pratica é bandido, certo? certo. então vamos lá: o filme acompanha as aventuras desses marginais escalando prédios e sujando-os. três deles, sequer sabem escrever o  próprio nome. um deles, que é uma espécie de líder do grupo sim, é alfabetizado e um 'pseudo-culto', na hora em que o filmam na cama lendo nietsche, me ecoa uma frase ‘quando um babaca decide que quer ser culto e espertinho, a primeira coisa que vai ler é nietsche’. quando um dos moleques, que já tem um filho, é questionado sobre o que quer da vida, ele responde: “ meu sonho é ter uma casa”. dá vontade de gritar em direção a tela a seguinte frase ‘e você gostaria que chegasse alguém e pixasse a SUA casa?’. esse é o conflito principal da primeira parte do filme: um cara ‘pseudo-culto’ que acha que sujar a parede dos outros é “arte”, se junta a três analfabetos e os fazem pensar que também estão fazendo 'arte', que estão fazendo 'um trabalho', que estão 'transgredindo'. eles nem sabem o que estão fazendo, não sabem nem escrever o próprio nome.  a verdade é que esses moleques sem educação só o fazem, porque gostam e porque acham legal serem odiados pela sociedade, a velha “vitimização”. eles acham que eu e você, que moramos em regiões centrais em apartamentos (com muito esforço, inclusive; eu mesmo vou acertar o que devo de aluguel só no dia 15), somos culpados por eles morarem na comunidade. cara, eu não tenho culpa, não tenho mesmo, pago uma caralhada de impostos. agora, se os políticos pegam o dinheiro e enfiam no cu, não é minha culpa, não mesmo. legal, chega a notícia que os pixadores foram contemplados no edital e vão para berlin. o 'pseudo-culto' diz: 'Vamos lá mostrar para eles nossa arte política!'. daí o analfabeto responde “se é louco...” claramente, ele não faz a menor ideia do que é 'arte política'. bem, lá vão os pixadores para berlin com o dinheiro dos nossos impostos. daí, acontece o ápice do filme: quando os curadores da tal bienal de berlin os convidam para um evento onde supostamente devem mostrar a sua 'arte'. quando chegam no local, se deparam com paredes brancas de madeira destinadas ao 'trabalho' das pessoas. no local, os curadores falavam sobre o que era pintar paredes utilizando tinta spray para fazer desenhos, pinturas, ou qualquera. não, eles não saem por aí escalando prédios públicos e sujando-os. pois então o 'pseudo-culto'  diz que 'não é esse o nosso trabalho', e 'não viemos aqui para pixar essas madeiras brancas'. o que fizeram os quatro contemplados então? saltaram as madeiras, pixaram o prédio público e tombado que tinha atrás delas, jogaram tinta no curador do evento e a palhaçada terminou com a polícia, claro. falando de cinema, achei a atitude do diretor extremamente corajosa em fazer o trabalho. E u não acho nem que ele aprove o que esses marginais fazem, mas ele quis mostrar, quis dizer que aquilo existe, em um lugar onde ainda existem pessoas não tem educação suficiente sequer para escrever o próprio nome e acham que são artistas, onde gente que tem uma educação básica e ruim pega um livro do nietsche e sai por aqui achando que é um gênio, achando que está arrasando no rolê.  eu dei cinco estrelas. pela coragem do diretor, pelo conflito, o documentário é muito bem feito, muito bem filmado, a fotografia em preto e branco está linda (só a parte filmada em são paulo está preto e branco, também concordo que são paulo só deve ser filmada em preto e branco). quando acabou o filme, bati palmas e saí apressado. a sala do espaço itaú da augusta estava lotada, tinha até gente em pé. o que será que aconteceu depois? será que os caras pixaram a sala?

voltarei no próximo post para falar mais sobre a mostra.


Epílogo.




temos uma imagem do biffe de atletismo. eu também viajo quando corro para saltar, quando saio do chão, da tábua até a areia.


XOXO

17 de out. de 2015

BLACK CHRISTMAS



esse sou eu, lendo um pequeno trecho do meu livro novo, a ser lançado muito em breve. tive de tentar duas vezes. tentar fazer o vídeo. parei na segunda tentativa porque eu vi que seria inútil insistir. minha voz é muito exótica. nunca gostei dela. minha narina esquerda está quase obstruída desde que eu era adolescente, provavelmente depois de uma briga, onde levei uma bela surra de uma garota duas vezes maior que eu. só descobri que a narina está nesse estado hoje, há poucos meses. se eu apenas tapar minha narina direita com o dedo, eu posso perceber facilmente o problema, mas isso nunca me ocorreu em quinze anos. eu me lembro da palavra ‘mulher’ e a ‘sócio-política’, acho que se a vida é mesmo uma pessoa, como já escrevi sobre por aqui, ela é uma mulher, e isso é um agravante que ajuda a justificar por que não gosto dela. visto que gosto menos de mulheres do que gosto de homens em geral, e isso é por causa do meio social, político e moral no qual eu fui criado, não é minha culpa. veja só o estado na minha narina esquerda...

você se enxerga? eu tenho problemas em me ver, me identificar neste vídeo. não se parece comigo. eu não esperava que eu era assim. a voz extremamente anasalada, como tenho de me esforçar para manter a sobrancelha baixa, o quanto eu leio prosa como poesia e isso é cafona, bem, e o quanto eu gostaria de ser mais masculino. até que percebi que, vendo o vídeo, essa figura não se parece com a pessoa que escreveu este livro, ‘o tiro de um milhão de anos’.

Imagem.

bem, eu deveria ter imagens, mais do que uma, para mostrar como foi o biffe de atletismo, mas não tenho. satã mandou alguns atletas muito bons para a competição domingo e eu terminei em quinto lugar. 5,34m, looonge do recorde. então apenas fui embora para casa, muito irritado e triste. depois de todas as provas, haveria a cerimônia de entrega das medalhas, uma festa, um churrasco talvez. mas eu apenas fui embora para casa chorar. não consigo chorar. passei a tarde inteira tristíssimo, mas não consegui chorar. assim como minha personagem corvo, eu não consigo chorar. em alguns momentos naquela tarde, eu senti um embrulho no estômago e uma vontade de por para fora como se fosse um vômito (mas era o choro). tentei forçar o choro a sair, mas não saiu. nem uma lágrima sequer.

no dia seguinte, eu comecei a perceber que aquilo era só uma competição, ou uma festa. como o natal. visto que treinamos o ano inteiro para o biffe, assim como trabalhamos e somos bonzinhos para o papai do céu o ano inteiro, para então encontrar os parentes no natal e celebrar por. infelizmente, no biffe eu fui o tio bêbado que fez uma cena no meio ceia e passei a meia-noite no hospital tomando glicose na veia, enquanto os outros se abraçavam. mas não é só pelos abraços, ou pela vitória. eu tentei, tentei mesmo mas. não deu certo. agora eu já posso começar a reparar erros do passado, como não ter feito minha necessárias cirurgias nos joelhos e no nariz, que não fiz antes este ano por estar treinando para o biffe de atletismo.

estou tentando, tentando muito pensar que não sou o 'dom casmurro' do atletismo. tentando recuperar ou refazer a juventude na velhice, tentando ser o atleta que eu deveria ter me tornado quando eu era adolescente. estou tentando agora pensar que estou apenas me preparando para ser um bom atleta master. vou fazer minhas cirurgias logo, e vou continuar treinando.

escrevi um poema ontem, em inglês:

“Men”
A man is just a man and
A man is just one man
And that’s why I never get a boyfriend.

eu gosto de colocar o poema aqui. o facebook perde os poemas. não que esse blog seja mais durável que o facebook. Aliás, há um trecho do meu livro novo que diz: “se você acha que a internet é mais forte que os dinossauros, você está errado!”.

ainda sobre homens e o meu problema de reconhecimento da própria imagem, cito que após ser aceito por um lindo homem, eu teria de aceitar a mim mesmo depois, e isso seria muito mais difícil. é exatamente o que acontece com a minha personagem, cracolene, no meu livro novo, no momento em que ela se sente confortável com a própria morte.

eu ainda escreveria sobre cinema, mas o farei no próximo post. falarei sobre a estreia do “feeling blue” (curta metragem filmado em 2013, o qual protagonizo) que será hoje, e também falarei sobre a 39º mostra internacional de cinema de são paulo.

“Christmas”

Love was hard to find
But we have
Love was hard to find

(Lori Carson)

“White Christmas”

I'm dreaming of a white Christmas 
Just like the ones I used to know 
Where the treetops glisten, 
and children listen 
To hear sleigh bells in the snow

(Irving Berlin)





por favor, venha comer castanhas na minha festa de natal pessoal.


XOXO.

30 de set. de 2015

A DOR EM REPOUSO

88 pilas por um bom headphone. a gata come o fio do ouvido direito e agora o headphone está morto na gaveta. eu usava para ouvir música na cama, ouvir e ver todos aqueles artistas da música no youtube. usava os fones no celular porque o ótimo aparelho de som japonês não tem saída para fone de ouvido. o outro aparelho de som que tenho, holandês, tem, mas o design dele não ajuda, ele não fica em pé na cama, o colchão é muito fofo. não acredito que alguém tão lindo quanto jeff buckley tem de morrer, que aquela absurda beleza tem de morrer. ele morreu afogado no rio mississipi e o pior é imaginá-lo quando encontrado, é horrível o que um rio faz com um corpo em algum dias. eu sei, eu sei um corpo em perfeito estado dentro de um terno, maquiado, também será destruído por insetos, pela terra. bem, eu não consigo concluir visto que água consome corpo, terra consome corpo. ainda acho que água é pior desde que corpos não conseguem escapar da água após alguns dias parecendo tão belo, tão sexy até, quanto a garota que se mata no filme russo "leviatã". eu consigo enxergar que aquilo não é uma falha do filme, em não mostrar o realismo de um corpo retirado de um rio, pois até a morte deve parecer bela, visto que até a morte deve parecer sexy. bem, eu vejo minha própria fotografia desaparecer como um fantasma do meu celular quando a bateria acaba.

não gabriel, não há repercussão sobre a sex tape da última postagem. se eu me filmar matando uma pessoa e postar o vídeo aqui, nada vai acontecer, mas até que sim um pouquinho. a última postagem foi muito melhor acessada que muitas das anteriores, mas não me alarmo com isso. sexo é algo tão comum, tão natural, assim como a simples nudez, eu fiz já no cinema. lars von trier fez, gustavo vinagre fez, stalking que não é comum, stalking não é natural, não é ok mostrar a bunda, sua cicatriz na bunda, sua vida pessoal e real em detalhes para uma pessoa inventada por outra, só para te observar, te seguir, tentar te controlar. stalking não é legal. ainda sobre a sex tape, vocês nem imaginam o que eu fiz ontem e filmei, mas não vou postar aqui, visto que sexo é tão comum, tão natural.



vamos ao título dessa postagem:

semana última, última quarta-feira, tive intensas dores nos joelhos devido ao treino para os jogos da liga de atletismo da usp. treino ruim. bem, ainda não sei por que me estresso pedindo ao meu gerente para sair mais cedo do trabalho com o intuito de chegar ao treino no horário, desde que o aquecimento e os exercícios educativos são os mesmos para todos e dificilmente mudam, e quando vou saltar, quase sempre vou sozinho como aconteceu na última quarta. além disso, me fizeram fazer saltos sobre barreiras antes, o que piorou muito a dor. quando fui saltar, não consegui correr rápido por causa da dor. além disso, tive de aguentar as costumeiras provocações dos atletas da poli originadas também por problemas pessoais entre o meu treinador e o deles. aquilo prejudicou minha concentração e acabei caindo de cara da areia em uma das tentativas. antes do tombo, torci o pé esquerdo e também machuquei a mão. algo assim só acontece com principiantes, fazia um ano que eu não levava um tombo assim. bem, acabei ganhando a medalha de prata na competição com um salto de 5,53m. na competição, depois do aquecimento, eu não estava com dores significativas e esperava um resultado melhor. um atleta master (que me ajudou durante a competição devido a ausência do meu treinador) que costuma treinar no mesmo horário que eu, disse há duas semanas que já tenho condições de saltar mais de 6 metros pelo que apresento nos treinos. mas não saltei. saltei 5,78m em março e estamos em setembro. e eu não consegui melhorar um centímetro sequer. algo está errado, claro. ganhei a medalha de prata porque apenas um bom saltador foi competir: stefan angelin da fea. mais uma vez fui derrotado por ele. se na competição de março eu perdi para ele por 20cm, dessa vez fiquei 76cm atrás. não é difícil imaginar que algo está errado no meu treino. bem, eu também fiz o salto triplo porque quase ninguém fez e eu queria outra medalha. consegui, ganhei o bronze com um salto de 10,70m. o atleta master que estava lá me ajudando, disse que tenho já condições de saltar 12 metros (..)


três meses sem competir. arrumando a roupa, a sapatilha.


o resultado.


as medalhas.

a competição mais importante do ano acontece em duas semanas e estou a 30cm do recorde, meu objetivo, que é de 5,83m

bem, tudo isso acima não é importante de fato. o fato é que essa competição última aconteceu das nove da manhã ás cinco da tarde e eu passei o dia inteiro sozinho na pista. ninguém falava comigo, ninguém sentava ao meu lado por dez minutos. talvez seja porque ninguém quer falar comigo ou porque eu é que não quero falar com ninguém, ou talvez seja as duas coisas, ou talvez nenhuma delas. talvez, voltar para a terapia me ajudaria a descobrir mas. e então eu vou conhecer o terapeuta e ele é tão lindo, tão lindo que eu começo a mentir na segunda sessão. foi o que aconteceu da última vez que procurei terapia. talvez eu devo tentar uma terapeuta mulher.

hoje é dia 30 de setembro. 3 da tarde. faz 27 graus e faz sol ás vezes. sinto bem até mas. essa noite vou encontrar um dos meus editores, o marcelo nocelli e ele vai me entregar algumas cópias do meu livro novo, que já está impresso e eu vou ter o singular prazer de vê-lo pela primeira vez. é como ver a face do seu bebê pela primeira vez. não vou ser mãe ou pai mas. tenho já três bebês. hoje á noite vou ver a face do meu terceiro bebê e. não consigo explicar. ou tentar. o quão bom é.



espero não ter depressão pós parto, como aconteceu com meus últimos livros. e é o que quis significar no título. a competição mais importante, meu lançamento em outubro. não sei o que vai acontecer quando esses eventos passarem, se a dor vai piorar ou passar.

volto logo para dizer.


XOXO.