24 de ago. de 2016

POESIA PAGÃ




entre tanto lixo no meu quarto, que sempre prejudica o humor, coloquei as duas mãos para apoiar a cabeça em direção a mesa pensando o quanto fui pego. this is love, this is love that I'm feeling. p j harvey responde em uma de suas músicas, de dezesseis anos atrás. por todo o lado, comprovantes de cartões, notas de supermercado, vísceras, garrafas sujas. quando a tradicionalmente amarga p j harvey compôs essa música, alguns críticos disseram que não acreditavam que ela estava feliz. Even in the summer, even in the spring, you can never get too much of, a wonderful thing.

daí fui para a musculação. para sustentar a paixão pelo salto em distância. para competir no próximo domingo, com tantos japoneses. para manter meu casamento. meu casamento com o atletismo da usp que dura já quase três anos. um casamento que muitas vezes questionei. tanto trabalho e nenhuma glória. reclamo, mas volto para a pista toda semana. eu apanho do atletismo.

nunca pensei em fazer coisas assim, como as que você vê na imagem acima. nunca pensei quando fui incluído na antologia sadomasoquista da literatura brasileira em 2008, junto com autores como machado de assis. será? será que machado de assis se vivo, permitiria um texto seu em tal antologia? na mesma antologia em que houvesse um texto meu, por exemplo? seria ele tão esnobe se vivo? deveria eu então tomar umas cervejas com ele na vila madalena para ele me aceitar? curiosamente, sendo chicoteado nos dias de hoje, eu me sinto aceito. 

***

você sabia que elvis costello uma vez viajou para o campo por semanas e ficou lá sozinho longe da esposa para então sair de lá com um novo disco? sim, devo dizer que não tenho escrito. perdi o prazo para inscrever um livro de poemas em um edital, e um esqueleto de um romance em outro edital. eu lembro. o prazo foi quarta-feira passada, quando meu namorado ameaçou terminar comigo. pensei que nunca mais o veria e então não pude pensar nos livros. this is love. this is love. um amigo, o portuga, hoje respondeu para mim quando eu disse a ele que estava "namorando": "ah, eu também estou com um affair, o que acha de irmos todos beber uma cerveja?" affair? certo, está na moda evitar a palavra "namoro" ou qualquer outra palavra que dê carga de responsabilidade e posse a relacionamentos. pouco entendo, desde que todo ser humano está fadado a morte. não consigo ver posse nisso. even in the summer, even in the spring.

eu tenho 200 anos e ainda gosto de chamar de namorado alguém que me visita com muita frequência e que vejo brilho nos olhos, que me faz ouvir sinos. tenho 200 anos, mas não tenho nada a ensinar sendo que namorei um viciado em crack, um desequilibrado que tentou matar minha gata e dois "plastics". como pude ter aprendido algo? então, até então pude só chamar de relacionamentos belos os meus três livros, com os quais houve muita troca, muito amor, muito aprendizado. azar meu, já que fui abandonado por meus três livros, pois um livro morre quando você termina de escrever, sabia?

***

um pouco sobre o hardcore:

eu escrevo desde os meus treze de idade. eu nasci em um deserto. e sou um chicken shit. meus três livros não inspiraram leitores nem críticos. meus projetos para publicar livros no futuro: tampouco.




XOXO