22 de set. de 2016

EU TAMBÉM QUERO CRIAR CAVALOS

Parte 1:



falando bem brevemente, a lição aprendida na aula de linguística foi que penso que você não gosta de ensinar linguística para tanto pobre, tanto negro. você está velha, não? e percebe que ao que passam os anos cada vez mais gente pobre e negra anda frequentando suas aulas, não? será que é por isso que você é tão indelicada? pois foi isso, o que de fato aprendi/percebi em sua aula.

sabe qual o problema do relacionamento amoroso/romântico? é não perceber/aceitar que a outra pessoa é tão má e perversa quanto você é.

lá vão vocês todos de novo entrar nessa gaiola feito galinhas, os lançadores de disco. esses discos bonitinhos, vermelhinhos ou prateadinhos são demais modernos, sabes? até a estátua é falsa. aquela do grego antigo em posição de lançar o disco. eles não lançavam discos, lançavam pedras lascadas, sabiam? ó grécia (...) mas não mais. hoje não há nada de nobre nesse pobre esporte. melhor eu parar de encher a boca para chamar esse esporte de nobre, pois não é. nem mesmo me julgue pela palavra “pobre”, pois ele é plenamente pobre exatamente onde estamos, nessa pista que pisamos.

lembra do primeiro refrão da música “the last time I saw richard” da joni mitchell?
“pretty lies
when you gonna realize they’re only pretty lies?
just pretty lies…”

aliás ainda estou tentando competir pela primeira vez este ano mas. “dói mais no coração do que na canela” pensei ao sair do treino hoje, somando é claro, ao conjunto de sentimentos ruins que aquela pista me dá. não posso dizer que a alma dói, pois não acredito em alma. nem posso dizer que o coração dói, pois é o colesterol que faz o coração doer, não sentimentos como amor/tristeza. onde se começou a dizer que a alma dói/o coração dói? na literatura? a literatura que inventou essa merda estúpida? talvez/provável, desde que muito da criação baseia-se na mentira.

bem brevemente sobre o ateísmo:
“a religião é o ópio do povo” karl marx
“uns recorrem a jesus, outros à heroína” joni mitchell

eu não prometi a você, mas prometi a mim mesmo que jamais traria outro homem para lhe apresentar, na sua casa. mas o fiz, fiz e sei que você não gostou. ingenuamente pensei que você iria gostar dessa vez, que você ficaria feliz se eu estivesse feliz. acho que esse breve quadro diz muito sobre a justiça.

se não houvesse ainda um pingo de justiça no mundo, pelé teria acendido aquela pira olímpica.


Parte 2:



aquém do festival de trovões que infesta meu trabalho literário em curso, troveja muito, troveja até pior na vida real.

governo japonês pede cancelamento de cursos de humanas em universidades. das 60 instituições nacionais, 26 já confirmaram medidas de redução ou fechamento de graduações. (notícia de 16 de setembro de 2015). sim. japão. 2015. já imaginou o que michel temer deve ter em mente para nós de humanas?

ei atletismo, ouça aqui: quando nosso casamento acabar, eu vou te processar, vou ser bem malvado, vou pedir uma pensão bem gorda.

não, não seria radical quebrar a própria perna. “é muito radical quebrar a própria perna” é uma das frases que a professora de linguística usa para nos ensinar a diferenciar sintaxe de semântica. pois queria eu. assim, eu poderia finalmente, tranquilamente beber chá, minha mãe poderia fazer quiabo pra mim, eu poderia tranquilamente ler a “teogonia”, “os trabalhos e os dias”, etc. os que devo obrigatoriamente ler para a matéria de poemas hesiódicos, mas ando perdendo muito tempo na academia e na pista (...) daí alguém pergunta para a professora se o seminário será individual ou em grupo. “depende de quantos serão os sobreviventes no curso daqui a algumas semanas” a professora responde.

também estou cansado de explicar que essa alergia não é sífilis.

aqui em humanas, você passa a conhecer os homens de poemas de mil versos e que tipo de gente faz poemas de mil versos? daí você também começa a perceber que tipo de gente você é.

bem brevemente sobre o suicídio:
antes de dizer a ele para não o fazer, não faça você, hugo. antes de imaginar o quão ruim seria estar no funeral dele, pense também no oposto.

sabe aquela música “wise up” da aimee mann? pois bem, você precisa parar de pisar naquela pista hipnotizado pela pessoa que você queria ser, ao invés da pessoa que você é.
“it’s not going to stop, till you wise up
no, it’s not going to stop
so just
give up…”

aliás, parece que vou voltar para a casa, mama. não há emprego. meu dinheiro acabará um dia. retornarei ao seu lar aos 30 e pior: retornarei não menos gay e não menos louco.


Parte 3:



ao menos sorria de volta para a professora, em agradecimento, após você não ouvir uma só palavra que ela disse em 100 minutos.

lembra-te agora do segundo refrão de “the last time I saw richard” da joni mitchell?
“listen, they sing the love so sweet
when you gonna get yourself back on your feet?
oh and love can be so sweet, love so sweet…”

ei, vou te mostrar “a teus pés”, um livro de poemas da Ana C. já na próxima vez que você vier aqui em casa.

XOXO