9 de nov. de 2017

QUARENTA DIAS

Faz quatro dias que minha mãe me buscou em casa para passar uns dias com ela, até que eu consiga um emprego novo. por mais que a casa seja grande, eu e meu pai não conseguimos dividir bem o espaço dela, então fico o dia todo preso no meu pequeno quarto, sem tv, sem música, minha gata Lebedeva veio comigo. eu poderia aproveitar a ociosidade para fazer coisas como ler ou ver filmes como o Lucas disse, mas o período de extrema apatia que eu ainda estou me recuperando me faz apenas olhar para as paredes e pensar muito no futuro, sobre a vida e sobre a morte. ás vezes rola um sonic youth ou um sugarcubes no meu iphone, mas a maioria do tempo é absoluto silêncio. parecem horas sabáticas e os quatro dias parecem já quarenta. 

ontem á tarde na mesa do café, estávamos eu, minha mãe, meu pai e minha sobrinha. sabe tinta de cabelo? se duas pessoas que você gosta muito dizem que uma determinada tinta de cabelo é boa, você não vai acabar usando? vai fazer porque confia nas pessoas e porque aquela tinta vai te trazer algum benefício, certo? então você acredita na tinta, por causa das pessoas que você gosta, e que são importantes para você. daí eu falei rapidamente sobre as teorias de nietzsche, de que só a terra é real, que o ser humano não é mais especial que nenhum animal e que nós criamos as religiões para tentar entender coisas que não devem ser entendidas. minha mãe me corrigiu dizendo que o budismo (que ela segue e que minha sobrinha também, recentemente) é uma filosofia, não uma religião. ao indagar a minha sobrinha sobre a origem do budismo, ela não soube explicar. mas lembra da tinta de cabelo? se minha sobrinha e minha mãe me amam e estão dizendo que praticar o daimoku é bom pra mim, por quê eu não posso adotar isso e acreditar que isso de fato possa me fazer bem?

começamos ontem. eu e minha mãe em seu grande gohonzon, começamos a meditar o "nam myoho renge kyo". ela disse que cada uma das mãos, uma representa uma energia boa e a outra a ruim e que juntas são mais fortes, por isso se junta as mãos na hora da meditação. não aguentei fazer por uma hora como minha mãe, que o pratica há muitos anos. ela entendeu e me deixou sair antes. ficou feliz que fiz a meditação com ela por uns minutos. desde então quando saio de um lugar, digo o mantra três vezes, e quando chego em segurança, digo mais três vezes. quanto mais dizer o mantra melhor, diz a filosofia. assim ele te traz energia. hoje, ao repetirmos, ela disse que no meio do gohonzon, naquelas letras japonesas, tem um olho, e que ele representa o equilíbrio, e é bom recitar o mantra olhando para ele. pretendo continuar. quando você começa a usar a tinta e vê que ela é boa, você não pára mais. essa é a ideia.

elsewhere 1:
não sei bem dizer se meu coração é fraco ou é sensível demais. estou começando a gostar do Lucas porque ele me fez falta nesses últimos dois dias. mesmo assim fiquei feliz com uma frase ontem e uma palavra hoje dele. estou com medo de cometer o mesmo erro de sempre: o de não entender que essas relações são baseadas na contemplação, não na possessão.

elsewhere 2:
talvez o daimoku já tenha trazido a primeira coisa boa: tenho uma entrevista de emprego segunda-feira em uma indústria química. vou lá fazer entrevista com o RH e testes de inglês e espanhol. até estudei um pouquinho de espanhol hoje. conseguir outro emprego logo é essencial para manter a minha liberdade e a minha independência.

elsewhere 3:
há dez dias estou sem treinar atletismo. me pus de castigo. determinei que não volto a treinar até conseguir outro emprego, o que deve coincidir com o fim da minha suspensão da atlética da FFLCH, que será no próximo dia 23. daí saberei se me aceitarão de volta para a equipe ou não. ficarei feliz se me aceitarem e quero que me aceitem, embora eu tenha fortemente questionado se quero continuar com o atletismo ou não. a volta para a equipe certamente dará um ânimo, mas se não me aceitarem, dificilmente continuarei. é muito ruim treinar sozinho. eu poderia continuar sozinho e competir em 2018 pela seleção da USP (é certo que serei convocado em duas provas) e as competições no master, mas treinar sozinho, de fato é muito ruim. posso até cogitar contratar um treinador para me acompanhar uma hora por semana e me dar instruções, posso fazer esse investimento, mas essa condição de estar "expulso" da equipe da FFLCH me deixaria bastante incomodado e desmotivado. Vi os resultados do BIFFE 2017 e eu teria facilmente saído de lá com duas medalhas novamente. A Letícia Machado, autora da denúncia que causou minha expulsão da equipe e minha suspensão da atlética não competiu. A Letícia Lucato, a co-autora da denúncia competiu de forma lamentável. A equipe masculina foi campeã geral, eles não precisam de mim e na realidade eu não preciso deles, mas por que não ficarmos juntos? por que não unirmos as forças?

elsewhere 4:
estou profundamente arrependido de ter chamado minha ex-gerente de "evanjeca" no post anterior. ela sempre foi muito generosa comigo até eu ter surtado há duas semanas. discriminação religiosa não é ok assim como Judith Butler é ok.

XOXO 

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